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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Fragmentos 3

Sou descendente de italianos e, quando criança, passava minhas férias escolares na cidade natal da minha mãe, na região cerrana do Rio Grande do Sul.
Lá moravam meus avós, tios e primos, que compõem as melhores lembranças da minha infância.
Lembro do calor daqueles verões, onde eu passeava debaixo das parreiras, comendo uvas retiradas do cacho...e sem lavar...rs
Lembro dos dias destinados ao preparo dos doces caseiros, as mulheres e crianças dividindo as tarefas de descascar as frutas, cortar e mexer o doce no imenso tacho, fervendo, em cima do fogão de lenha.
No final do dia, minha avó enfeitando os vidros de compota com tirinhas brancas de crochê.

Lembro das noites, sem luz elétrica, com os lampiões acesos e as lamparinas na oratória onde era rezado o terço.
Lembro do dia em que esqueci a “Ave Maria” e levei uma bronca da “nona”...rs

Lembro das noites escuras, as sombras na janela, o imenso quarto escuro onde eu e minhas primas cochichávamos segredos e riamos baixinho com medo de acordar a “nona”. E quando ela acordava, com as nossas risadas, vinha até o nosso quarto prometendo uma surra, que nunca aconteceu!

Sim, ela era terrível...rss...a verdadeira "mama italiana"!
*
Todos só falavam em italiano, meus avós nunca falavam português com a família, tanto que, a minha mãe só aprendeu a falar português quando foi para a escola.
Meu avô cantava músicas folclóricas e contava histórias do seu pai, meu bisavô, um anarquista, que morreu com 100 anos.
Lembro do meu bisavô, o anarquista “nono Feron”, cantando e dançando depois de tomar vinho. Morreu sem realizar seu sonho...voltar para Verona sua cidade natal.
♥Meu avô, minha maior saudade...
Marcello Dalla Costa...era um homem à frente da sua época, dono do primeiro cinema da sua cidade, do primeiro hotel e do Café Imperial, copiado da “Colombo” do Rio de Janeiro.

Era um homem extremamente vaidoso, nunca saía de casa sem estar impecável no seu terno de linho, chapéu e sapatos brilhando.

Meu avô conhecia vários países, era inteligente, sensível e carinhoso.
Seu maior prazer era fazer as refeições com toda a família reunida. A cena era sempre a mesma...começava com o “nono” contando suas histórias, bebendo vinho, falando sem parar e rindo muito...depois começava a cantar músicas italianas...a sua preferida “La canzone del Grappa”:

“Monte Grappa tu sei la mia Patria,
sei la stella che addita il cammino,
sei la gloria, il volere, il destino,
che all’Italia ci fa ritornar.”
...
Cantava sorrindo, com os olhos brilhando e ficava emocionado. A emoção era tanta que era dominado por uma nostalgia, acho que um misto de alegria, tristeza e saudade...então ele chorava. Querido.

♥Lia♥

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Lia! Que bom foi receber sua visita e que surpresa gostosa conhecer seu blog e encontrar tanto texto bonito. Você escreve muito bem, com leveza, poesia e também muita franqueza.
Parabéns, moça bonita!

beijo da
Maria Lúcia

Anônimo disse...

Adorei descobrir teu blog, mãe.
E juro pra vc que, do jeito que escreve, eu me vi ao lado do Nono, cantando e rindo com ele...
Que dom maravilhoso, mãe.
Devia escrever um livro.
Te amo!

Guto